quarta-feira, 18 de agosto de 2010

DEPRESSÃO E RELACIONAMENTOS PESSOAIS




DEPRESSÃO E RELACIONAMENTOS PESSOAIS
Author:Xavier Amador
Fonte: NAMI’s 2002 Advocate
Tradução: APOIAR

A depressão geralmente é uma doença devastadora.  Todos nós sabemos que a depressão clínica afeta o humor, os padrões do sono, o apetite, a motivação e até a vontade de viver.  Mas o que muitas pessoas não se dão conta é do grau que os transtornos depressivos afetam os relacionamentos.  Um casamento em que um dos parceiros está com depressão, tem nove vezes mais propensão de acabar, do que um onde não exista a depressão.

         Esta estatística marcante não é o único fator a indicar o quão destrutivo pode ser uma depressão clínica para os relacionamentos.  As relações íntimas das pessoas com depressão são mais estressantes e mais rodeadas de conflitos do que das pessoas não depressivas; brigas e desentendimentos são muito mais comuns.  Neste contexto, não é uma surpresa que a depressão – e os problemas sexuais causados pela depressão – seja a razão mais comum dos casais que procuram uma terapia.  Aproximadamente 50% das mulheres depressivas reclamam de sérios problemas dentro do casamento.

         Os parentes de pessoas deprimidas também sofrem de preocupação excessiva, raiva e exaustão.  Pessoas que convivem com um indivíduo deprimido estão mais propensas à depressão e têm um risco maior de desenvolver outros problemas emocionais, como ansiedade e fobias.

         Como um sofredor da depressão clínica, presenciei o dano feito aos entes queridos.  Eu costumava me sentir sem forças para ajudar, especialmente quando estava me esforçando tanto para me curar.  Felizmente, podemos aprender técnicas para combater estes efeitos “secundários” da depressão e ajudar a preservar relacionamentos importantes e permanecer otimista em relação à recuperação.

         Por que a depressão leva a dificuldades tão severas de relacionamentos e até prejudica a família e os amigos?  Pense um pouco.  Se você está sozinho e nervoso porque sua mulher tem estado triste nas últimas semanas e nunca quer estar perto de você; em determinada situação, você pode responder ao pedido dela para ajudar a limpar a casa com um suspiro ou um olhar insatisfeito.  Ela percebe sua raiva e se sente sem apoio, mais desamparada e deprimida – reações que alimentam sua raiva e sua solidão. Pesquisadores descrevem este tipo de interação como um espiral depressivo decrescente, onde suas reações ao comportamento da pessoa que você ama pode piorar a depressão ao invés de trazer alívio.

         Os estágios iniciais deste ciclo decrescente podem adquirir muitas formas.  Uma das possibilidades é que você se sinta culpado em relação à sua raiva pela esposa, mas não fala diretamente sobre o que está sentindo e ela percebe que está ocultando seus sentimentos.  Resultado: a comunicação entre vocês dois começa a se desfazer; ou você expressa sua raiva muito livremente, e com isto ascende o pavio já curto de sua esposa, fazendo com que uma conversa construtiva seja impossível. Sabemos que, quando as brigas são muito inflamadas, elas não resolvem nada.  O que não percebemos, talvez, é o fato de que este tipo de interação leva inevitavelmente ao aumento da depressão e à desesperança para nós mesmos e para quem amamos.  É quase como um ritmo de dança no qual as duas pessoas se encaixam, e cada passo do parceiro afeta o seu.  Se você e seu parceiro deprimido estão tendo problemas de relacionamento, as chances são de que você já está interagindo nesta dança depressiva.

         Dr. Laura Epstein Rosen, psicóloga, também acredita que o relacionamento de pessoas depressivas passa pelo que chamamos de Etapas de Adaptação à Depressão (EAD).  Da mesma maneira que um bebê passa pelo desenvolvimento gradual – aprender a engatinhar e depois a andar – os relacionamentos passam por estágios em resposta à depressão.  Assim como ao desenvolvimento de um bebê, as etapas de EAD podem ocorrer em tempos diferentes para relacionamentos diferentes, com as etapas nem sempre distintas e isoladas umas das outras.  A característica de um comportamento prévio pode persistir à seguinte etapa, como quando a criança já anda, mas continua a engatinhar às vezes.  E mesmo que em algum momento uma pessoa possa regredir a uma etapa inicial, progridem essencialmente na mesma seqüência.  Em cada nível, decisões precisam ser tomadas e isto pode influenciar o curso da depressão e seu efeito no relacionamento com a pessoa depressiva.

         Existem quatro etapas de adaptação:

1. Problema: nesta etapa, um ou os dois indivíduos do relacionamento percebem problemas de interação. Alguma dificuldade nova apareceu ou uma antiga retornou.  O problema pode variar em uma mudança na quantidade ou qualidade de tempo gasto com brigas maiores e cortes na comunicação.

2. Reação: a reação inicial ao problema pode ser consciente ou inconsciente, como um reflexo.  Um ou os dois parceiros reagem ao problema, construtivamente ou destrutivamente.

3. Reunindo Informações: agregar informações sobre o problema pode dar forma à conversa com o parceiro ou com pessoas fora do relacionamento, sobre suas idéias acerca do problema. Isso permite verificar sobre como a doença está causando ou contribuindo para o problema ao invés de defender falsas conclusões como: “ela está desinteressada em sexo porque está me traindo”, “ela está na cama durante o dia todo porque é egoísta e preguiçosa”, ou “ele não se lembrou porque não se preocupa comigo”.

4. Resolvendo o Problema: aqui, estas informações são utilizadas para desenvolver um novo plano de ação, o qual leva a uma resposta menos automática, como sentimentos de rejeição e dor, que conduz, por sua vez, a respostas mais conscientes, como relacionar o problema à depressão e tentar resolve-lo.  Se o plano de ação estiver baseado no problema errado, ou seja, o casal não reconhece a depressão como uma criminosa, o resultado desta etapa será ineficaz para a resolução do problema.  Se a causa do problema é identificada corretamente como depressão, haverá uma solução eficaz para o problema do relacionamento.

Nossas experiências e pesquisas clínicas sugerem o seguinte guia para os entes queridos de alguém que está sofrendo de depressão:

Ø  Aprenda tudo o que pode sobre depressão e suas reações na própria pessoa, como raiva, nervosismo e medos.
Ø  Tenha expectativas realísticas com esta pessoa e com você mesmo (por exemplo, você pode animar a pessoa, mas não pode curá-la).
Ø  Dê apoio (expresse seu amor e seu apoio sempre que puder).
Ø  Siga sua rotina sempre que possível (não sinta medo de deixar a pessoa sozinha quando quiser socializar, praticar exercícios, etc.)
Ø  Não tenha medo de expressar seus sentimentos – apenas procure expressá-los de maneira construtiva.
Ø  Não leve para o lado pessoal (aprenda a distinguir o que é resultado da doença e não característica da personalidade da pessoa).
Ø  Peça ajuda para vocês dois.
Ø  Trabalhe como um time contra a depressão ao invés de ir a favor das diferenças entre vocês.

Através da prática destes oito passos e o EAD (Etapas de Adaptação à Depressão), você poderá influenciar positivamente sua jornada nos estágios e reverter os efeitos secundários negativos da depressão.

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