quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Amigos: os homens que escolhemos como irmãos



Identidade feminina



Lúcia Rosenberg escreve sobre a mulher atual



Amigos: os homens que escolhemos como irmãos

Amigo complementa. Traz a racionalidade que nos falta e ganha nossa perspectiva subjetiva, em contrapartida

Falo muito da importância e poder das amigas, uso e me lambuzo desse néctar, satisfeita e grata. Aliás, desconfie da mulher que não tiver uma boa amiga.

Hoje quero homenagear os amigos. Os homens que (es)colhemos como irmãos. Pra quem a gente não precisa encolher a barriga ou passar corretivo – nem na fala. Pode explodir, confiar os segredos, pedir conselho, carona, oferecer seu colo e curas e tocar os mistérios das diferenças sem risco algum. Só ganhos, descobertas, aprendizado e a certeza de algumas grandes revelações sobre o sexo oposto!

Na infância, pra quem não tem um irmão de idade próxima, o amiguinho ajuda a vencer medos, transpor muros, desenvolver velocidade e competências que só brincar de casinha jamais nos daria. Claro que a vida vai oferecer muitas outras entradas para esses mundos masculinos, mas o amigo talvez seja nosso primeiro passaporte.

Custei a me convencer de que somos mesmo diferentes. Cresci nos anos 60 no meio da revolução sexual que gritava direitos iguais e tal. Se não fossem meus amigos, jamais teria assimilado as diferenças, não teria compreendido os códigos de linguagem dos homens. Hoje sei que há um abismo de diferenças entre os dois gêneros, e meus amigos foram como pontes pra eu poder alcançar o lado de lá.

Amigo complementa. Traz a racionalidade que nos falta e ganha nossa perspectiva subjetiva, em contrapartida. Amigo traduz as esquisitices do namorado e mostra as nossas – assim, neutro no julgamento, calmo na voz, sem ter que provar nem ganhar nada. Na serenidade do neutro, a aceitação se instala e a gente vai se revelando. Muitas vezes tem que ouvir do cara quão ridícula, melindrosa e infantil a gente tá sendo – e agradecer.

Amigo cuida como precisa, não como a gente quer. Ele diz o que está vendo e revela o que não conseguimos ver – espelho mágico e confiável que reflete além da imagem. Namorados parecem ter mais dificuldade em sussurrar “verdades”, amigos conseguem esfregar algumas delas com suavidade, mais pra testemunha do que para juiz ou vítima do nosso mau jeito.

E mais: ajudam a gente a encontrar saídas, a assumir posturas – ainda e desde pequenos: como ajudar a escalar as pedras do canto da praia ou descer barrancos até a cachoeira. São protetores, mas não como irmãos de sangue, que dificilmente lançam a irmã numa aventura. Aventuras são geralmente reservadas aos amigos.

Na crise do casal, nunca encontrei lugar melhor pra conversar do que ombro do amigo. Dá pra chorar, mas não fica nisso. O melhor é poder destrinchar o diálogo, porque ali está um verdadeiro tradutor-intérprete da língua e da lógica dos homens. Eles apontam as zonas de melindre, delatam importâncias e pontos inescrutáveis aos nossos leigos olhos de meninas, ajudam a deletar as bobagens que não devem ser levadas em conta, ensinam a compreender os meninos e a preparar direito a cestinha pro lobo mau.


Amigo é, então, passaporte, ponte, tradutor, esteio, bússola, ombro, complemento, espelho e cúmplice – é pouco? E como se não bastasse tudo isso, olha a gente com doçura, convida pra jantar, inventa, às vezes, uma viagem e ainda tira pra dançar.

Quer saber, também desconfio do homem que não tem a sua amiga.

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