quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Sonhos para serem sonhados




Quem de nós não tem um mundo à parte que carrega dentro de si?
Quem de nós às vezes não se esconde no vale encantado da alma em busca de forças para suportar o que a gente chama de realidade?
Quem de nós não sofre e se delicia com os sonhos que, insistentemente, nos habitam e assim facilitam a nossa sobrevivência?
Acalento tantos sonhos que já tive a impressão de que a existência é abstrata demais. Todos os dias eu vejo as minhas ambições mais particulares se acumulando na alma ao mesmo tempo em que a vida se esvai em uma louca velocidade. E isso me faz sentir com cruel intensidade uma das mais indomáveis angústias do ser humano: a de sonhar sabendo que o sonho dificilmente será alcançado.
Mas a vida não é isso mesmo, um acumulado de quimeras?
Somos sonhadores na essência, porque viver é sonhar e vice-versa. Dirá alguém que as pessoas são o que elas sonham, pois cada um é, na verdade, aquilo que traz dentro de si.
Eu penso que temos duas espécies de sonhos.
De um lado, aqueles pelos quais lutamos e dedicamos nossos dias, nossas noites, finais de semanas, anos, a nossa fé: são os que nos fazem levantar toda manhã e descansar à noite. São os sonhos do mundo exterior: o trabalho, o estudo, as aquisições, as viagens, a saúde.
Mas, a par destes, temos outros bem guardados, escondidos, que não eclodem de nós, mas existem intactos e irreveláveis em algum cofre da alma. Esses não são, em regra, sonhos para serem conseguidos, mas sonhos para serem sonhados.
Não importa o que fazemos, onde estamos, eles nos pertencem. A gente vive com eles. A gente cresce com eles. A gente envelhece com eles. A gente morre e eles vão junto, porque são da alma. São sonhos que, mesmo muito distantes – alguns até irrealizáveis –, têm a imprescindível finalidade de servirem de combustível da vida. São sonhos que sequer provocam o medo do fracasso, porque queremos apenas tê-los.
Por isso que temos sonhos para serem conquistados e sonhos para serem sonhados. Os primeiros dão sentido à vida e os segundos dão sentido a nós mesmos. Aqueles surgem do cérebro e estes nascem na alma.
Certa vez ouvi alguém dizer que fulano havia morrido com um sonho. Eu digo que ele não morreu com o sonho: ele viveu com aquele sonho. E muito provavelmente isso o fizera mais vivo, pois são justamente os sonhos que nos mantêm acordados na vida.
Pode ser doloroso o cultivo de sonhos altos como as estrelas, mas, por outro lado, é confortante e até necessário ter sonhos para sonhar, ainda que só para sonhar.
Sonhos para serem sonhados são aqueles pelos quais existimos para nós mesmos.
Leopoldo E Arnold
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